Saber estar com os outros para libertar todos
LUÍS DA MATTA ALMEIDA Produtor
Eu não gostei de trabalhar em "A Suspeita" porque nada foi como pensava que ia ser.
Quem é que produziu alguma vez um filme, durante tanto tempo -- dois anos de preparação, três anos de produção -- sem ter tido uma derradeira discussão com o realizador, com o os argumentistas, em suma, com a equipa artística, com a equipa técnica, com a imensa lista de co-produtores e apoiantes ou com alguém em particular, por uma razão vital ou, simplesmente, tentando pôr ordem na casa segundo o seu ponto de vista?
Que eu saiba ninguém.
Ora quando produzi "A Suspeita" não discuti com ninguém, nem ninguém tomou a iniciativa de discutir comigo, com tantas oportunidades e contratempos que houve e que o longo tempo de produção nos concedeu.
Sempre me disseram:
"Meu filho, uma boa e salutar discussão faz vir ao de cima o melhor e o pior das pessoas, esclarecendo tudo e mostrando novos caminhos e novas soluções."
O Zé Miguel não me ligou nenhuma...só estava preocupado a realizar o filme e nas inúmeras coisas em que se desdobrou desde autor, pintor, escultor, modelador, carpinteiro, etc.
Durante três anos dormio e fez amor com o filme e resultou naquilo que muitos já tiveram oportunidade de ver.
Os outros todos só queriam era fazer o que tinham a fazer e nunca tinham tempo para esta coisa de mostrar novos caminhos e novas soluções.
Eu também me desdobrei em mais umas tantas coisas e a certa altura esqueci-me de discutir.
Agora o filme já se fartou de ganhar prémios e todos dizem que é bom.
Ensinem-me lá outra vez, é ou não é um bom método discutir para fazer um bom filme?
Já não sei. Nós fizemos um assim, sem gritarmos uns com os outros.
Será que fizemos um bom filme?