Quatro anos da minha vida
JOSÉ MIGUEL RIBEIRO Realizador Animador
A ideia era fazer um filme onde o espectador se identificasse com as personagens.
Queria fazer um filme que abordasse a forma como as pessoas se relacionam umas com as outras num espaço fechado.
Durante esses últimos quatro anos vivi uma grande parte dos meus dias para este filme e para tudo o que continuava a envove-lo. Porque o cinema de animação se faz imagem a imagem, é necessário tempo, paciência e determinação para se ultrapassarem as dificuldades e se conseguir chegar ao fim. Se juntarmos a isto uma substancial dose de inexperiência, a duração do filme (25`) e a coordenação de uma equipa, composta na sua maioria por estreantes no cinema de animação, facilmente se deduzirá que " A Suspeita" foi uma grande aventura.
Uma aventura que começou numa pequena sala vazia de 70m2, durou três anos e até ao último dia da montagem eu nunca estive seguro da qualidade que tÃnhamos atingido.
Aprendi a fazer montanhas de poliuretano, aprendi a optar entre duas interpretações do mesmo actor para uma personagem, aprendi a animar arbustos com arrastamento, aprendi como funciona uma câmara de 35mm "por dentro", aprendi a escolher tecidos para fins especÃficos, aprendi a optar entre propostas musicais. Aprendi, aprendi, aprendi!
No meio deste redemoinho, não houve nem tempo (dinheiro) nem disponibilidade mental para arriscar mais. As energias foram conjugadas para servir o filme. Testaremos as nossas ideias e visões nos próximos projectos...e em filmes mais curtos.
As filmagens de "A Suspeita" iniciaram-se sem termos tido tempo para ensaios com as marionetas. Fomos descobrindo a animação e a interpretação de cada personagem no decorrer da rodagem.
Durante todas as fases do filme ocorreram problemas técnicos, desde o fabrico doa espuma de latex, à entrada traiçoeira de luz numa das câmaras, culminando num risco no negativo do filme. Por isso, a minha aprendizagem neste filme foi muito mais técnica do que estética.
Acredito que a alma deste filme nasceu da inspiração repentista de todos os que nele se deram sem limites.
O público pode não reparar na gravata do Salcedas (da Elsa e da Felismina), na antena de televisão (da Marta), no cartaz que anuncia Depilarex (da Suzana), no azulejo partido no painel da estação da Serra da Caneca (do Igor)...eu noto e nunca o esquecerei.