CENÁRIOS
Rodámos o filme (quase inteiramente) num interior de um compartimento de carruagem de comboio
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SET PRINCIPAL
Interior compartimento de carruagem comboio
Esta opção, teve a vantagem de não "agigantar" o trabalho de construção de cenários, mas emergiram duas dificuldades de relevo: a necessidade de mostrarmos paisagens através das janelas do comboio e o facto de este se encontra quase sempre em movimento Consequentemente, tivemos de imaginar um sistema de cenário a que pudessemos recorrer num ciclo que não se tornasse "Monótono"
Naturalmente, o compartimento foi o cenário que exigiu mais investimento, pois nele iria evoluir a maior parte da acção.
Concebemo-lo de forma a qualquer parede e inclusivamente o tecto, pudessem ser retirados para a colocação da câmara de filmar e permitir assim uma tomada de vistas de todos os ângulos dentro e fora do compartimento.
Mais tarde, para ganharmos tempo, decidimos filmar com duas câmaras em simultâneo.
Foi necessário dividir o estúdio em duas áreas operacionais. Cada animador trabalhou numa área e executou todos os planos da personagem que interpretava.
Para conseguirmos montar duas mesas de trabalho que partilhavam a mesma parede do compartimento, foi necessário fabricar mais paredes do cenário.
a necessidade de mostrarmos paisagens através das janelas do comboio e o facto de este se encontrar quase sempre em movimento obrigou-nos
PAISAGENS
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a imaginar um sistema de cenário a que pudéssemos recorrer num ciclo que não se tornasse "Monótono"
"Monótono" era a ameaça que nunca deixávamos de vigiar.
Concebemos um sistema com três diferentes zonas de passagem de cenários. Na 1ª a mais próxima do comboio, desfilavam árvores, arbustos e postes a uma velocidade de 5 cm por imagem. Na segunda, colocada a meia distância entre a 1ª e a 3ª zona, passavam montanhas a uma velocidade menor (4 mm por imagem) e finalmente a 3ª zona, constituída por um cenário pintado, deslocava-se a 1mm por imagem
No filme, é a relação entre a velocidade, a escala e a cor destas três zonas que transmite a sensação de perspectiva e de avanço do comboio na paisagem.
Para criar a sensação que de que os passageiros faziam uma viagem de médio/longo curso fizemos o comboio atravessar três tipos de paisagem. Para tal, foi preciso construir três tipos diferentes de relevo, arbustos e árvores, que esculpimos em poliuretano com massa de gesso e cola, e que pintámos com tintas acrílicas.
As três estações onde o comboio pára foram inspiradas nas tradicionais estações de comboio portuguesas, com belos paineis de azulejos, construidos em escalas diferentes, consoante os planos e a forma prevista de filmagem.
Vale Trilhado, a última estação do filme, exigia maior escala, uma vez que filmámos cenas de acção no exterior. A escala foi calculada a partir do tamanho real das personagens Helena e Jonas, que se movimentavam na plataforma da estação.
Os materiais que utilizámos nas construção das estações foram: madeira (contraplacado), placas de poliuretano, cartão, cola a quente, massa de gesso e cola, arame, tintas e muita, muita patine.
Também construímos três carruagens de comboio, um interior de túnel, uma cidade, e todos os adereços.
Carruagens, túnel
e
ADEREÇOS
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Além dos cenários referidos acima, construímos três carruagens de comboio, um interior de túnel, uma cidade, e todas as malas, sacos, canivetes, jornais, cassetes, sandes e muitos outros adereços, às vezes subtis mas que enriqueceram decisivamente o filme.
Antes de construirmos qualquer adereço, recorríamos sempre ao storyboard para confirmar como iria ser usado e filmado. Por exemplo, a mala de Helena foi concebida em poliuretano com um sistema interno de ímanes que a fazem deslizar sobre dois arames até ao porta-malas do compartimento: foi necessário construir quatro canivetes de Barcelos, um para cada função e outro, que usámos sempre que o canivete estava fechado; o jornal foi um adereço desenvolvido em pormenor, pois funciona como a 6ª personagem da história. Tornando-se necessário animá-lo, colocámos entre cada duas folhas de papel uma folha de alumínio. Foram também construídas várias escalas do jornal, a que recorremos de acordo com o enquadramento pretendido.
Em Julho de 1998 todos os cenários e adereços estavam concluídos. Arrumámos tudo, limpámos o estúdio, colocámos cortinas pretas nas janelas, preparámos as câmaras e ligámos os projectores "--Acção!"